domingo, 18 de novembro de 2007

O bom é ser inteligente e não entender

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: pelo menos entender que não entendo.”

Esse trecho do conto “A menor mulher do mundo”, de Clarice Lispector, entra na minha mente com uma aura de constatação. É tão grandioso admitir a ignorância que Clarice descreve nesse conto. Abstrair! Abstrair o que temos convicção que é perda de tempo ou que não tem importância. Quantos atritos evitaríamos se não fizéssemos questão de saber os mínimos detalhes de tudo o que nos cerca? Abstrair é um grande passo para afastar a hipocrisia. Ao abstrair diferenças, convivemos melhor. Porém, como a própria Clarice adverte, e como em quase tudo neste mundo, isto não deve ser absoluto. Há uma linha tênue entre a abstração e a alienação. Senso crítico e lucidez são ótimos contrapesos.

Essa divagação toda me passou pela cabeça ao assistir mais uma investida da TV Globo sobre o governo Chávez. Quem somos nós para julgar? Será que o povo venezuelano possui os nossos mesmos valores em relação à democracia? Isso tudo admitindo que a repercussão negativa de Chávez perante os venezuelanos é verdadeira. A Globo não iria focar um protesto com uma aproximação grande de câmera para dar a impressão que as ruas estão cheias de anti-Chávez. Lógico que não (sic)! Mas me parece que supor esse tipo de atitude é saudável. Lógico que se sempre considerarmos esta hipótese, nenhuma mídia jornalística se salvaria. A mídia tem muito valor sim. Nem todas as empresas de mídia são mal intencionadas. Mas já que algumas podem ser, é melhor prevenir: senso crítico e lucidez!

Um comentário:

Anônimo disse...

Impressionante essa sua linha de raciocínio! Tens grande futuro viu, Tiago? Continue escrevendo.